


Portal da Tuberculose

PORTAL DA TUBERCULOSE

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Portal da Tuberculose
ARTIGOS

Diariamente novos artigos científicos sobre tuberculose (TB) são publicados em todo mundo. No entanto, é difícil para o profissional sobrecarregado na rotina de trabalho acompanhar a literatura e discernir o que pode e deve ser aplicada na prática diária juntos aos pacientes com TB.
A proposta do Portal da Tuberculose e reunir o que existe de mais recente na literatura científica nacional e internacional sobre TB e apresentar aos profissionais da área de saúde as ferramentas mais atuais e úteis para o enfrentamento da TB no nosso país.
As metas do milênio para TB pactuadas pela Organização das Nações Unidas visam reduzir as taxas de incidência e de mortalidade em 50% até o fim de 2016. Apesar do Brasil ser ainda um dos 22 países responsáveis por 90% dos casos de TB do mundo, até o ano de 2007, ocorreu em nosso país uma queda de 26% na incidência e de 32% na mortalidade por TB.
Boletim Epidemiológico - Volume 46 N°9 2015
Secretaria de Vigilância em Saúde − Ministério da Saúde ISSN 2358-9450

Detectar, tratar e curar: desafios e estratégias brasileiras frente à Tuberculose
Introdução - A Tuberculose é uma doença infecciosa de elevada magnitude e importância no mundo. Estima-se que um terço da população mundial esteja infectada com o bacilo causador da doença, e que em 2013 ocorreram 9 milhões de casos novos e 1 milhão de óbitos.
O Brasil faz parte do grupo dos 22 países de alta carga priorizados pela Organização Mundial da Saúde (OMS), que concentram 80% dos casos de tuberculose no mundo, ocupando a 16ª posição em número absoluto de casos. No país, no período de 2005 a 2014, foram diagnosticados, em média, 73 mil casos novos de tuberculose por ano, e em 2013, ocorreram 4.577 óbitos.
A OMS estabeleceu metas desafiadoras para os países em sua estratégia pós-2015, definindo como visão de futuro “Um mundo livre da tuberculose: zero mortes, adoecimento e sofrimento causados pela doença (A world free of tuberculosis – zero deaths, disease and suffering due to tuberculosis)”.
Para o alcance desse compromisso, em alusão ao Dia Mundial de Luta Contra a Tuberculose – 2015, a Stop TB Partnership lançou o tema “Alcançando os 3 milhões de casos não detectados: rastrear, tratar e curar a todos”. A mobilização visa marcar o compromisso político e social em busca da eliminação da tuberculose como um problema de Saúde Pública.
O Brasil segue a proposta da OMS no que diz respeito às prioridades relacionadas à detecção precoce de casos, ao tratamento do paciente e à sua conclusão com desfecho favorável: a cura. Para isso, as atividades desenvolvidas precisam estar relacionadas a abordagens que visam à redução do estigma que ainda existe em torno da doença e à melhoria das estratégias para adesão ao tratamento, não perdendo de vista a necessidade de articulação com outras áreas, inclusive fora do setor da saúde.
Nesse contexto epidemiológico, e ainda considerando que o controle da doença é um desafio agravado por sua associação com as vulnerabilidades sociais, o Ministério da Saúde tem como uma de suas prioridades de agenda o controle da tuberculose. Os objetivos deste Boletim Epidemiológico foram descrever os indicadores epidemiológicos e operacionais da tuberculose segundo Unidades Federadas e capitais brasileiras e relatar algumas atividades desenvolvidas pelo Programa Nacional de Controle da Tuberculose (PNCT) em parceria com os programas estaduais e municipais que visam detectar precocemente, tratar e curar os pacientes.
Método - Trata-se de um estudo descritivo dos indicadores epidemiológicos e operacionais do controle da tuberculose no Brasil no período de 2005 a 2014 e das atividades desenvolvidas para ampliação da detecção precoce de casos e aumento da adesão ao tratamento.
População do estudo - A população do estudo foi composta pelos casos e óbitos por tuberculose no Brasil que apresentaram essa doença como causa básica, de acordo com a Classificação Internacional de Doenças (CID-10), considerando-se os códigos A15-A19.
Local de estudo e fonte de dados - Os indicadores foram calculados, de acordo com a Unidade Federada e as capitais de residência, a partir das bases de dados do Sistema de Informação de Agravos de Notificação (Sinan) do Ministério da Saúde, do Sistema de Informações sobre Mortalidade (SIM), do Sistema de Informação de Tratamentos Especiais da Tuberculose (SITE-TB) e dos dados populacionais do Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística (IBGE).Os dados referentes aos casos de tuberculose diagnosticados em São Paulo, Rio de Janeiro, Bahia, Ceará e Paraná foram disponibilizados pelos programas de controle da tuberculose desses estados, a partir das bases de dados estaduais do Sinan. Os dados sobre o rastreamento de casos de tuberculose no Presídio Central de Porto Alegre-RS foram disponibilizados pela equipe de saúde desse presídio, e aqueles sobre a produção da rede de teste rápido para tuberculose foram obtidos das planilhas do FormSUS, que possuem dados produzidos pelos Laboratórios Centrais e Municipais que compõem a Rede de Teste Rápido para Tuberculose.
O indicador “proporção de casos novos de acordo com a unidade de saúde de notificação e acompanhamento” foi obtido a partir do relacionamento de uma base de dados contendo a classificação dos estabelecimentos de saúde das capitais brasileiras segundo nível de atenção (primária, secundária e terciária) com a base de dados do Sinan-TB contendo os casos novos diagnosticados em 2013.
Na ficha de investigação da tuberculose constam os campos unidade de notificação e unidade de atendimento atual, o que tornou possível o relacionamento dos bancos. A classificação dos estabelecimentos de saúde das capitais brasileiras, segundo nível de atenção, foi solicitada pelo PNCT aos Programas Estaduais de Controle da Tuberculose (PECT) em parceria com os Programas Municipais de Controle da Tuberculose (PMCT).
As informações sobre algumas atividades desenvolvidas pelo PNCT para o aprimoramento das ações de controle da tuberculose, no que diz respeito ao diagnóstico precoce e adesão ao tratamento, foram obtidas diretamente com os técnicos que estão envolvidos com o tema abordado.
De acordo com o Relatório Global da Tuberculose da Organização Mundial de Saúde, o Brasil atingiu todas as metas internacionais relacionadas à incidência, prevalência e mortalidade por tuberculose. As metas propostas foram: parar e reverter a tendência do coeficiente de incidência da tuberculose até 2015 (meta estabelecida nos Objetivos do Milênio); e reduzir em 50% a prevalência e a mortalidade por tuberculose em 2015, em comparação a 1990 (meta do Stop TB Partnership).
Em 2014, foram diagnosticados 67.966 casos novos de tuberculose. Ao longo dos anos, observa-se redução do coeficiente de incidência, passando de 41,5/100 mil hab. em 2005 para 33,5 por 100 mil hab. em 2014, o que corresponde a uma redução média de 2,3% ao ano nesse período

Concepções de enfermeiros sobre o tratamento supervisionado da Tuberculose no Brasil
Objetivo: Analisar a concepção dos enfermeiros da atenção primária sobre a viabilidade do tratamento supervisionado para a tuberculose. Métodos: Tratou-se de uma pesquisa descritiva exploratória com 11 enfermeiros. As entrevistas foram gravadas, transcritas e os dados foram organizados em facilitadores e dificultadores para o tratamento supervisionado. O estudo foi aprovado pelo Comitê de Ética em Pesquisa com Seres Humanos, parecer Nº112.520.
Resultados: Os enfermeiros consideraram o número reduzido de profissionais, a ausência dos agentes comunitários de saúde, falta de educação em serviço e problemas de comunicação com o centro de referência como dificultadores da viabilização do tratamento supervisionado. Porém identificam que o vínculo facilita a adesão ao tratamento, assim como a flexibilização no horário da tomada do medicamento, o incentivo assistencial, tais como, cesta básica, vale-transporte, doação de leite além da disponibilidade da medicação.
Conclusões: Os achados do presente estudo apontam que a elevada demanda e diversidade de ações sobre a responsabilidade do enfermeiro, associada com o número reduzido de profissionais, dificultam a atenção ao tratamento supervisionado e sugerem adaptações para aumentar sua eficácia, como mais treinamentos e espaço para que os profissionais troquem experiências, por reconhecerem a eficácia da modalidade desse tratamento para tuberculose.
Descritores: Tuberculose; terapia diretamente observado; auto-administração
Introdução: A Tuberculose (TB) apesar de curada desde os anos de 1940, com a utilização da pirazinamida e estreptomicina, ainda preocupa autoridades em todo o mundo, visto os altos índices da doença, intrinsecamente associados às baixas condições econômicas e sociais da população (World Health Organization [WHO], 2006).
Embora existam esquemas terapêuticos que apresentam eficácia superior a 95%, há ainda um número significante de pessoas que não aderem ao tratamento (Vieira & Ribeiro, 2011), colaborando para a TB ser considerada um grave problema de saúde pública (Abreu & Figueiredo, 2013). Diversos fatores têm sido referidos como causa da baixa adesão ao tratamento, entre eles estão os baixos investimentos na manutenção e no financiamento dos programas, a falta de conhecimento e desmotivação dos profissionais de saúde, além da dificuldade de acesso aos serviços de saúde das populações mais vulneráveis, tais como desempregados, moradores em situação de rua, alcoolistas crônicos e usuários de drogas (Villa, Ruffino-Neto, Arcêncio & Cardozo-Gonzales, 2006).
No Brasil, o Ministério da Saúde recomenda a implementação da estratégia Direct Observed Treatment Short-course (DOTS), desde 1996 (Villa et al., 2006), no entanto a Organização Mundial de Saúde, reconhece a necessidade de ampliar o emprego do tratamento supervisionado (WHO, 2006), visto que o DOTS tem sido considerado uma das medidas essenciais do tratamento da TB, por se mostrar eficaz no aumento das taxas de cura e na diminuição das taxas de abandono (World Health Organization [WHO], 2005).
A estratégia DOTS, abrangendo a heterogeneidade de cada localidade pode colaborar intensamente para alcançar as metas mundiais de controle da TB, que correspondem à detecção de casos (70%) e o sucesso do tratamento (85%) destes (Villa et al., 2007). Nesta perspectiva, a expansão do DOTS para a atenção primária tem sido um eixo estratégico para controle da TB, entretanto, tem ocorrido de forma lenta e gradual devido a obstáculos como o despreparo dos profissionais, a falta de recursos humanos e institucionais e a organização das ações de serviços tendo uma visão centralizada e fragmentada do processo (Yin, 2005). Nesse sentido é importante salientar a participação dos profissionais e a sua interpretação sobre o papel que desempenham nesse processo (Hino, Santos, Villa, Muniz & Monroe, 2005).
É fundamental compreender como os atores envolvidos no DOTS agem e reagem à terapêutica, particularmente os profissionais de saúde, cuja atuação interfere diretamente na eficácia do tratamento. A interação destes profissionais com os doentes, o conhecimento que apresentam sobre a doença e o tratamento, podem influenciar o comportamento do individuo frente ao tratamento da TB (Hino et al., 2005; Ferreira, Sobrinho, Zóia & Figueiredo, 2013).
Para que o DOTS seja um mecanismo efetivo para ampliar o índice de cura da doença e, assim, atingir as metas mundiais, é fundamental investigar as interfaces envolvidas no processo. Consequentemente, analisar além das perspectivas dos indivíduos em tratamento, a dos profissionais de saúde, entre eles particularmente dos enfermeiros. Diante do exposto, o presente estudo tem como objetivo analisar a concepção dos enfermeiros da atenção primária em saúde sobre a viabilidade do tratamento supervisionado para a TB, identificando e descrevendo suas percepções acerca das facilidades e barreiras de
operacionalização do mesmo.


Métodos:
Tratou-se de uma pesquisa descritiva exploratória, de abordagem qualitativa, utilizando--se o método de Estudo de Caso (Ministério da Saúde, 2011). A opção pela abordagem qualitativase deu pela intenção de compreender os fenômenos, na perspectiva dos profissionaisestudados, sobre a sua concepção da viabilidade do tratamento supervisionado paraa TB no município.O método de estudo de caso, por sua vez, foi considerado o mais adequado tendo em vistaa clara necessidade de se compreender fenômenos sociais complexos, no caso, a percepçãodos enfermeiros e as facilidades de operacionalização identificadas por eles para o DOTSnas unidades.
A pesquisa foi realizada com enfermeiros das Unidades Básicas de Saúde - UBS do municípiode São Carlos-SP, sendo convidados a participar do estudo os enfermeiros responsáveispelas 12 UBS, sendo 11 os que aceitaram o convite, os quais foram identificados com a sigla (E) e enumerados aleatoriamente. Os dados foram coletados por meio de entrevista, que além de dados sobre o perfil do profissional (idade, sexo, tempo de trabalho na unidade, treinamento sobre DOTS, entre outros) possuía a seguinte questão norteadora: “Em sua opinião qual a viabilidade da realização do tratamento supervisionado nas UBS de São Carlos?” As entrevistas foram realizadas nos meses de janeiro e fevereiro de 2013, gravadas e posteriormente transcritas. Os dados coletados foram organizados em torno de seis temas, a saber: falta de recursos humanos e materiais; falha na educação continuada e dificuldade de comunicação com o centro de referência, como dificultadores, e aumento da adesão ao tratamento, o vínculo e a disponibilidade do medicamento, como facilitadores.
O estudo foi aprovado pelo responsável pela Atenção Básica à Saúde do município e pelo Comitê de Ética em Pesquisa com Seres Humanos da Universidade Federal de São Carlos – São Paulo, Brasil; parecer Nº 112.520 e a pesquisa foi conduzida conforme os padrões estabelecidos pela Resolução 196/96 do Conselho Nacional de Saúde.
Compreendendo a experiência de cuidadores de crianças com Tuberculose em tratamento diretamente observado
Introdução: O elevado índice de infecção pela tuberculose e a resistência ao tratamento associada ao abandono do mesmo levou a Organização Mundial de Saúde (OMS) a introduzir a estratégia de “Tratamento Diretamente Observado” (TDO), em que o profissional de saúde observa a ingestão dos medicamentos pelo paciente.
Objetivo: Compreender a experiência vivenciada por cuidadores de crianças com tuberculose ou comunicantes em relação ao TDO.
Método: Pesquisa descritiva exploratória, de abordagem qualitativa, desenvolvida no ambulatório do Programa Einstein na Comunidade de Paraisópolis (PECP). Os dados foram coletados por meio de entrevistas semiestruturadas com 13 cuidadores de crianças em TDO para tuberculose, utilizando-se o Discurso do Sujeito Coletivo (DSC) para analisá-los. Resultados: Foram identificados sete DCSs, agrupados em quatro categorias: “Vivendo uma situação difícil", “Mudando a rotina da família”, “A responsabilidade é quase sempre da mãe” e “Buscando-se adaptar-se ao tratamento diretamente observado”.
Conclusão: As dificuldades enfrentadas pelo cuidador da criança ao iniciar o TDO modificam significativamente a rotina familiar. A responsabilidade pela sua continuidade é principalmente da mãe, que busca adaptar-se às exigências do tratamento e enfrentar a situação.
I. INTRODUÇÃO - No Brasil, estima-se que 64 milhões de pessoas estão infectadas pelo bacilo da tuberculose. Em 2012, foram notificados aproximadamente 70 mil novos casos. Países em desenvolvimento concentram 80% dos casos mundiais, com predomínio da população economicamente ativa de 15 a 54 anos. As crianças adquirem a infecção a partir do convívio com um adulto bacilífero, entretanto, nem sempre adoecem
O tratamento para a tuberculose é dividido em duas fases. Rifampicina (R), Isoniazida (H) e Pirazinamida (Z) são administrados na fase de ataque por dois meses, enquanto na manutenção utiliza-se somente a Rifampicina e Isoniazida por quatro meses.
Pessoas que tiveram contato com pacientes portadores de tuberculose bacilífera mas não adoeceram (comunicantes) recebem Isoniazida por seis meses (quimioprofilaxia), apenas quando há reatividade à prova tuberculínica
Devido ao tratamento prolongado, é frequente o abandono pelo paciente quando ocorre melhora do estado geral. Visando aumentar a adesão ao tratamento e as chances de cura, reduzindo-se o risco de transmissão da doença para a comunidade, foi criada a “estratégia TDO (tratamento diretamente observado)”.
O TDO consiste na observação da ingestão dos medicamentos em todos os dias úteis, na fase de ataque, e no mínimo três vezes por semana, na fase de manutenção do tratamento. São administrados por profissionais de saúde ou eventualmente por outra pessoa, desde que devidamente capacitada e sob monitoramento do enfermeiro.
Em estudo sobre a adesão de pacientes a longos tratamentos, publicado pela Organização Mundial da Saúde (OMS), verifica-se que a qualidade da relação terapêutica é um fator determinante na adesão. A flexibilidade é essencial, fazendo com que as alternativas e os meios terapêuticos sejam explorados junto com o paciente.
As crianças são dependentes do adulto para a realização do tratamento, sendo necessário, portanto, que profissionais de saúde desenvolvam um trabalho, de maneira que os responsáveis por ela comprometam-se em aderir ao tratamento. As autoras deste estudo propõem-se a investigar sobre as experiências dos cuidadores de crianças em TDO para tuberculose, a fim de compreender as dificuldades enfrentadas por eles nesta situação.
II. OBJETIVO - Compreender a experiência vivenciada por cuidadores de crianças com diagnóstico de tuberculose ou comunicantes em relação ao Tratamento Diretamente Observado.
III. MÉTODO - Trata-se de uma pesquisa de campo descritiva exploratória, de abordagem qualitativa. O estudo foi realizado no ambulatório do Programa Einstein na Comunidade de Paraisópolis (PECP), localizada no município de São Paulo.
Participaram do estudo os acompanhantes de crianças em TDO para tuberculose atendidas no referido ambulatório, entre setembro a novembro de 2013. A amostra constituiu-se de 13 participantes, que concordaram em participar da pesquisa, assinando o Termo de Consentimento Livre e Esclarecido, de acordo com a resolução CNS 466/2012.
A maioria dos entrevistados eram mães das crianças em TDO (11; 84,6%). A idade variou entre 24 e 48 anos (média = 34,2 anos). Quanto à escolaridade, sete (58,3%) possuiam o ensino fundamental incompleto e, no que se refere à ocupação, cinco (38,4%) encontravam-se desempregados.
Em relação ao tratamento das crianças, dez faziam quimioprofilaxia (76,9%) e três (23,1%) recebiam o esquema básico para a tuberculose.
A coleta de dados realizou-se após a aprovação do projeto pelo Comitê de Ética em Pesquisa (CAAE: 17931213.8.0000.0071), por meio de entrevista semiestruturada, conduzida a partir de um roteiro constituído de: dados de identificação dos participantes e do tratamento atual da criança; e duas questões norteadoras sobre a experiência do cuidador em acompanhar a criança em TDO para tuberculose.
As entrevistas foram realizadas durante a permanência do participante no ambulatório, sendo gravadas e, posteriormente, transcritas na íntegra.
As entrevistas transcrições foram analisadas utilizando-se o Discurso do Sujeito Coletivo (DSC). Trata de uma técnica de tabulação e organização de dados qualitativos, que tem como fundamento a teoria da Representação Social e seus pressupostos sociológicos.
A técnica consiste em analisar o material verbal coletado em pesquisas que têm depoimentos como sua matéria-prima, extraindo as ideias centrais ou ancoragens e as suas correspondentes expressões chaves. A partir da semelhança entre elas, compõem-se um ou vários discursos que, em primeira pessoa, reúnem as opiniões da coletividade
IV. RESULTADOS
A análise das entrevistas possibilitou identificar sete DCSs, agrupados em quatro categorias, apresentadas a seguir.
1 Vivendo uma situação difícil
1.1 O impacto do diagnóstico (DSC1)
Quando se aborda sobre o momento do diagnóstico junto ao cuidador da criança, os sentimentos de insegurança e culpa tomam conta dele, em função do desconhecimento em relação à evolução da doença e seu tratamento.
Eu comecei primeiro (com a doença). Descobri que estava com tuberculose porque estava tossindo. É muito difícil você poder estar com a coisa, não saber que tinha e, de repente, acabar passando pro seu filho… Quando eu fiquei sabendo (que a criança estava com tuberculose), eu fiquei muito abalada... assim, né.... modo de falar... No dia que eu vim, que elas falaram que ela ia ter que tomar (a medicação), eu perdi bolsa, eu perdi exame, eu sai daqui descabelada... Descabelei, chorei, fique arrasada... Eu não sabia, não tinha chão, nem nada. Não sabia o que esperar (DSC 1).
1.2 Com medo de perder o filho e tendo que lidar com o preconceito (DSC2)
Como meio de reparação da culpa, o cuidador adota uma postura de superproteção da criança. Tende a afastá-la de seus familiares, principalmente quando já existe algum caso de tuberculose entre eles, temendo a piora da situação clínica da criança. Em função da doença, ele acredita que a saúde da criança encontra-se mais fragilizada do que o habitual, estando mais vulnerável a outras infecções.
No começo, eu fiquei assim, meia neurótica. Quando ela tomava banho, eu colocava touca, meia nela... era louca. Não saia na rua, esperava umas 3 horas pra ir com ela na varanda... fechava tudo. Também parei de deixar ela muito junto com outras crianças. Porque antes, ela ficava muito na casa da avó dela... A prima dela também estava em tratamento (para tuberculose). Como ela ficava lá, a partir daí, a gente teve que deixar de levar pra lá, pra poder não piorar (DCS 2).
Ao iniciar o tratamento, o cuidador relata ter percebido que alguns sintomas da doença, como febre, tosse e sudorese, potencializaram-se ao invés de melhorar, preocupando-o com a possibilidade de uma piora do estado da criança. Associam-se, ainda, aos efeitos adversos relacionados à metabolização e excreção das drogas, como alterações hepáticas e renais, que intensificam, nos pais, o medo de perder o filho.
Está um pesadelo pra mim. Depois que ela começou a tomar (a medicação), que eu vi que os sintomas parece que aumentou, não sei... aí eu fiquei um pouco desesperada. ela tinha febre, suadeira... ela sua muito, a tosse aumentou… Além disso, o problema hepático dela fez com que ela botasse pra fora (vomitava). Ela tem enzimas altas, o rim dela ficou meio sobrecarregado... os bacilos, alguma coisa assim, que a médica disse que estava muito alto... Ela estava chorando muito, eu vi que o remédio estava dando dor. Então, ela tinha que tomar a medicação e tomar o remédio pra dor. Aí, ela (a médica) teve que dar uma amenizada. Ela pediu exames de sangue... Agora, vamos ver (DCS2).
A necessidade de comparecer diariamente no serviço de saúde para a criança tomar a medicação é um fator desestimulador e que leva o cuidador a querer desistir do tratamento do filho. Reconhece, contudo, que essa atitude poderá comprometer seriamente a saúde da criança e até levá-lo à morte.
Ela estava tomando só um (medicamento) e depois, teve que aumentar a dose do remédio. Ela estava quase na fase de terminar e teve que começar tudo de novo(a criança era um comunicante, mas depois foi diagnoticada a tuberculose). Dá até vontade de desistir, mas como para os filhos da gente, a gente quer o melhor... fazer o que? Não é fácil. Esse que é o saco do tratamento. Mas tem que fazer, antes de acontecer o pior né, porque o pior é que é difícil, né? (a pesquisadora pergunta-lhe o que é pior)... a morte (DSC2).
Outra questão difícil de lidar apontada pelo cuidador é o preconceito. A falta de conhecimento sobre a tuberculose e o estigma que essa doença carrega, desde os tempos em que não havia tratamento eficaz, colaboram para que as pessoas se afastem dos portadores de tuberculose. Esse preconceito estende-se até mesmo para aqueles que não transmitem mais a doença (tuberculose não bacilífera) ou que só tiveram contato com pessoas doentes (comunicantes), que ainda tomam a medicação.

Além do mais, a gente nem pode estar falando para as pessoas que a gente conhece, que a gente está tomando esses remédios. Não é todo mundo que entende. Porque para as pessoas que a gente convive, elas pensam que a gente está tudo contaminado com a doença… Na família do pai dela, só por que eles não fizeram exame, eles tem medo... Preconceito, porque eles não sabem(se tem a doença)... nem eu sabia. Achava que só em estar perto (da pessoa com tuberculose), eu podia pegar. Todo mundo pensa, né? Não querem vir em casa... Se afastam... Sofremos com o preconceito... (DSC2).
1.3 Lidando com as dificuldades financeiras durante o tratamento (DSC3)
O fato de ter que comparecer ao serviço de saúde várias vezes na semana impede alguns cuidadores de trabalhar, por não terem com quem dividir a tarefa de acompanhar a criança. Esse fato impacta diretamente na situação financeira familiar, sendo que, em geral, apenas um dos pais trabalha.
Pensando na situação financeira, menina, complica muito. Eu estou empatada seis meses praticamente… Seis meses só o marido trabalhando em casa. Nós tem, fora ela, mais dois (filhos). Já pensaste a situação? Eu tinha que ajudar o marido… tem conta pra pagar, tem isso e aquilo outro… tem compra pra fazer... Aí, minha filha, eu sei que é uma situação que pegou a gente desprevenida (DSC3).
Além disso, o não recebimento da cesta básica, por crianças em quimioprofilaxia, é um motivo de descontentamento. Os cuidadores consideram que o fato de não poderem trabalhar, por terem de levar a criança diariamente para tomar o medicamento, compromete a renda familiar. O Programa Nacional do Controle da tuberculose (PNCT), do Ministério da Saúde, fornece uma cesta básica mensal para os pacientes com tuberculose durante o tratamento, mas não estende esse direito aos comunicantes, ou seja, pessoas que tiveram contato com pacientes portadores de tuberculose bacilífera mas não adoeceram.
O que eu não entendi é por quê não me deram a cesta(básica). A médica falou que ela não tem a cesta porque ela não tá doente (comunicante)... mas eu não entendi... Como ela não tá com a doença, tá só com a bactéria, então ela não tem os mesmos benefícios que a pessoa com a doença tem. Porque a pessoa que está com a doença, eu sei que tem o direito de uma cesta de alimentos todos os meses (DCS3).
2 Mudando a rotina da família (DSC4)
A “estratégia TDO” leva as famílias das crianças em tratamento a modificar suas rotinas, devido à exigência de que um dos membros compareça à unidade de tratamento diariamente para acompanhar a criança.
Pra mim, mudou muita coisa. Mudou praticamente tudo. Primeiro, que a rotina fica mais carregada, né. Não era só ela que estava fazendo o tratamento... tinha outra irmã que também estava (tratando). No começo, tinha que vir todos os dias. Foi uma correria, porque não tinha o negócio de não vir. Agora, ela vem só de segunda, quarta e sexta, ou seja, tem que vir aqui um dia sim e um dia não… Hoje ela já colheu exame de sangue , precisa fazer mais um no final do mês e, depois, tem outro (DSC4).
Em função da necessidade de manter seus empregos, como mantenedores de suas residências, alguns cuidadores adotam estratégias de maneira a priorizar o tratamento da criança, como contratar pessoas para acompanhá-la ao serviço para receber o tratamento e realizar exames de rotina.
Como o pai dela trabalhava pela manhã, não tinha como ela vir. Então, eu tive que gastar para poder trazer por cinco meses... então, vinha outra pessoa com ela. Quando ela não trazia, eu pedia para alguém trazer… Agora mesmo, eu vou trabalhar. Mas é cansativo, porque hoje eu tenho que trazer ela, trabalhar, tomar conta de casa…(DSC4).
O cuidador busca, também, protegê-la de situações que podem piorar o seu estado de saúde ou, no caso de comunicante, que possam levá-la a desenvolver a doença.
A minha cunhada me disse que ela pegou do meu cunhado, que estava preso. Quando ele saiu (da cadeia), foi pra casa da mãe dele. E lá, passou pra ela (a criança) e pra mais dois sobrinhos. Os dois sobrinhos trataram aqui (no PECP) também e o tio, foi tratado lá no posto... na UBS. Os outros (familiares) falaram que trataram, mas não fizeram exame pra ver se está tudo bem. Por isso, não vou querer que ela fique como antigamente… que ficava mais tempo ali dentro daquela casa (DSC4).
Em função da doença, o cuidador empenha-se em adotar novas rotinas principalmente de higiene, para evitar a transmissão para os demais integrantes, ou prevenir a piora daquele já acometido (DSC 4).
Em casa, os únicos cuidados que eu tenho (com a higiene), é lavar as mãos,que nem passa na televisão… depois de ir no banheiro... escovar o dente. Também separei os talheres, mudei o ambiente do quarto, porque tem que ser mais arejado... por causa dela e das outras meninas, que tem asma (DSC4).
3 A responsabilidade é (quase sempre) da mãe (DSC5)
A maioria das crianças era acompanhada por suas mães. Nos discursos, torna-se evidente que a responsabilidade do cuidado pela criança geralmente recai sobre a mãe. Ela assume toda a responsabilidade sobre o tratamento, delegando para outros somente quando está realmente impossibilitada de acompanha-la.
Agora, eu fico o dia inteiro fazendo as coisas, correndo e pensando, no remédio, no remédio, no remédio... O remédio não sai da minha cabeça. Ela tem que tomar o remédio, eu não posso esquecer, eu não posso não vir. Se eu faltar, por causa de um dia que ela não tomar o remédio, já vai prejudicar ela. Você fica mais preocupada, nossa demais. E agora, pra trazer ela aqui pra tomar o medicamento, está um pouco difícil, né… estou gestante. Vir pra cá todos os dias é um pouco cansativo pra mim. Eu moro descendo esse ladeirão. É cansativo, porque eu tenho que vir subindo, né. A barriga já está grande... está pesando... a menina já começa empurrar. Então, eu levo ela para a escolinha e vou buscando às pressas pra dar a medicação antes que passe a hora. Só quando não tem jeito mesmo, aí eu peço para a minha mãe trazer. Mas é só às vezes (DSC5).
Apesar de alguns cuidadores contratarem pessoas para levar a criança ao serviço, elas frequentemente não cumpriam o compromisso assumido, recaindo novamente sobre a mãe a responsabilidade pela falta da criança no atendimento.
Eu já perdi umas três vezes de dar a medicação pra ela, deixando nas mãos de outras pessoas pra poder vir dar a medicação. Quando eu pedi para o pessoal vir, o pessoal não veio trazer... Porque se for pagar, que nem eu já tentei, encontrar gente responsável é tão difícil... nem na escolinha elas (educadoras) estão dando (a medicação). Na visão dos outros, como não é filho, mesmo você pagando, o pessoal pensa: “Ah, não deu tempo”... São tão irresponsáveis. Eles não têm a mesma responsabilidade que nem eu, que sou a mãe, não têm. Às vezes estou com duas netas, tem que levar na escola... Elas já perderam três dias de aula, porque eu fiquei esperando a pessoa levar na escola, mas ela não apareceu (DSC5).
Os discursos evidenciam que a mãe é quem mais se envolve com o tratamento, nem sempre podendo contar com o pai da criança que encara a situação de maneira “mais descontraída”. Assim, ela entende que deve priorizar a saúde do filho, antes mesmo de sua própria saúde.
Para o pai dela já é diferente... homem é sempre mais descontraído. O meu marido é atrapalhado, ele não sabe... E então, acha que tudo é mais fácil. Além do mais, ele não pode trazer, porque ele está tratando também. Então ele vai tomar e diretamente vai trabalhar. Enfim, a mãe tem que realmente se sacrificar... Primeiramente tem que pensar na saúde da criança... eu penso na saúde dos meus filhos. Meu cansaço... depois eu sento e descanso (DSC5).
4 Adaptando-se às exigências impostas pelo tratamento
4.1 Entendendo melhor a situação da criança (DSC 6)
A medida que compreendem o motivo pelo qual a criança está fazendo o tratamento, o cuidador mostra-se mais conformado com a situação. Ressalta-se que, na maioria dos casos, as crianças eram apenas comunicantes e não estavam doentes. Ao compreender esta diferença e, também, por saber que a tuberculose atualmente tem cura se o tratamento for correto, o cuidador sente-se mais confiantes na atuação da equipe, apoiando-se, também, na fé que tem em Deus.
Do jeito que me explicaram, deu pra entender que ela não está doente, ela só está com risco. O vírus (bacilo de Koch) que está no corpo dela, está dormindo e a medicação (quimioprofilaxia) é pra tentar mata-lo. E então, eu entendi que o tratamento é preventivo... Fiquei menos preocupada, principalmente porque eu vi que ela estava nas mãos de uma boa médica... que eu vi que ela se empenhou bem. Assim, quando eu contei do caso que tinha na família, ela na hora já pediu os exames. E enquanto saía os resultados, ela já deu um apoio legal…Graças a Deus tem cura e com fé em Deus, ela vai melhorar né (DSC 6)
4.2 Seguindo em frente, apesar das dificuldades (DSC7)
Ao assumir o compromisso com o tratamento, o cuidador busca, em conjunto com a equipe, alternativas que facilitem a sua continuidade.
Antes eu estava trazendo todos os dias, mas como, às vezes, eu trabalho um dia sim e um dia não, ficou mais difícil. Então, eu conversei com a enfª Luana... eu falei: “Luana, não dá não... dá um tempo aí... dá uma relaxada aí, senão não dá não.” Graças a Deus, conseguimos.... Então, eu vinha segunda, quarta e sexta e ela levava (a medicação para casa) terça, quinta, sábado e domingo (DSC7).
As medicações do esquema terapêutico geram algumas reações indesejáveis, podendo contribuir para a desistência do tratamento. Apesar disso, o cuidador compreende a importância de continuar, incentivando a criança a tomar a medicação (DSC 7).
Ela estava falando para a médica que tem muita dor na barriga e nas pernas, dor de cabeça e fraqueza. Ela vomitava muito, mas agora não vomita mais. Ela nunca se recusou... Sempre tomou, sempre fez o tratamento. E eu sempre converso com ela, todo dia: “a gente vai, toma rapidinho e a gente já volta”. Então, a gente vem aqui, ela toma, e, depois, eu vou e tomo os meus (na UBS). Nessa parte, é uma coisa que eu tento, não só com ela, com os outros (outros filhos que também tratam)... eu falo que é pro bem deles. Não sou de ameaçar. Se você vê, ela tomar amedicação, é como se tivesse tomando um copo de uma coisa gostosa, que ela quer... nesse ponto ele não dá trabalho (DSC7).
O cuidador também se preocupa em não tratar a criança que faz o tratamento para tuberculose de maneira diferente que os outros filhos, evidenciando a sua preocupação com o bem estar emocional dela.
Eu também não vou tratar ela diferente... Isso só é motivo de a criança achar: “ah, eu sou doente, eu sou muito doente, eu posso morrer”. Então, eu já tento passar isso pra ela, que ela é igual aos outros (DSC7).
Apesar de todas as dificuldades enfrentadas durante o tratamento, o cuidador considera a importância do apoio que recebe de outros membros da família, da equipe de saúde do serviço e, também, do governo.
Eu tenho que agradecer minha mãe, porque ela que me ajuda com os meninos. Com ela já é difícil, imagine sozinha com duas crianças pra cuidar, é muito difícil. Mas estamos ai, graças a Deus, estamos chegando ao fim, depois de nove meses de tratamento. Só perdemos um dia… Além do mais, recebo uma cesta básica que ajuda bastante, é muito boa (DSC7).
V. DISCUSSÃO
Em relação às dificuldades enfrentadas pelo cuidador no tratamento da criança e as mudanças da rotina da família, um estudo que analisou as potencialidades e limites da estratégia do tratamento supervisionado (DOTS) para a tuberculose sob a percepção de usuários do tratamento e profissionais de saúde encontrou dados parecidos aos da presente pesquisa.
Para os usuários do referido estudo, o tratamento prejudica o cotidiano devido ao preconceito e à rejeição, causando isolamento da sociedade e da família, sentimento de inutilidade e dependência financeira, como decorrência da necessidade de paralisação das atividades laborais, além do medo de transmitir a doença às pessoas próximas. Não é incomum a criança adquirir a tuberculose do cuidador, devido a relação estreita entre ambos, parecendo ser um dos principais motivos pelo sentimento de culpa do cuidador.
O medo de transmitir a doença aos filhos e familiares, mesmo em fase final do tratamento, quando supostamente não estão mais em fase de transmissão, é citado também em uma pesquisa desenvolvida na periferia da região sul do município de São Paulo, que aborda sobre as necessidades em saúde segundo as percepções de pessoas com tuberculose pulmonar.
Ao se sentir culpado pelo fato da criança ter contraído a doença, considerando que ela é dependente do adulto, verificou-se que o cuidador tende a adotar atitudes de superproteção em relação aos cuidados com ela, mesmo quando o seu quadro clínico dispensa tratamentos mais complexos.
Este comportamento também é observado em um estudo desenvolvido com pais de crianças cardiopatas, que redobravam a sua atenção e vigilância sobre a criança, superprotegendo-a, em uma constante preocupação com a sua condição de saúde. O estudo revela, ainda, a dificuldade desses pais em se libertar da imagem estigmatizada da criança doente, mesmo após o sucesso da correção cirúrgica.
Outra preocupação do cuidador com a criança em tratamento para tuberculose são os efeitos adversos das medicações, que agregam desconfortos indesejáveis a criança, como as náuseas, o vômito e a dor abdominal, apontados como os mais comumente observados, de acordo com o Ministério da Saúde.
Estes desconfortos gerados pelo uso das medicações são considerados um fator de risco para o abandono ao tratamento da tuberculose. Entretanto, eles podem ser contornados, quando a criança e o cuidador são orientados a ingerir os medicamentos juntamente com o café da manhã.
Evidencia-se a importância de se estabelecer um vínculo significativo entre o cuidador e a equipe de saúde, para que abandono do tratamento não aconteça. É preciso orientá-lo sobre a ocorrência dos principais efeitos adversos, pois conforme apontam os discursos dos cuidadores, o conhecimento sobre o tratamento favorece a adesão ao tratamento. A necessidade da criança comparecer diariamente à unidade do serviço de saúde impacta na situação financeira das famílias devido ao fato do cuidador principal, em geral a mãe, ter que abandonar o emprego para dar acompanhar a criança. Esta estratégia de tratamento supervisionado é estabelecida para todos os pacientes que fazem tratamento para tuberculose, com o obetivo principal de garantir a adesão ao tratamento. Existem, contudo, outras modalidades como a domiciliar e a compartilhada, quando há a possibilidade de tomar as medicações em casa se não pode ir até o serviço de saúde (domiciliar) ou em outro local mais acessível à família (compartilhada). A escolha deve ser feita conjuntamente entre a equipe de saúde e o paciente, considerando a realidade e estrutura de atenção à saúde.
Estas alternativas podem contribuir na redução do impacto financeiro que as famílias sofrem, quando o cuidador principal deixa de trabalhar ou quando necessitam contratar alguém para substitui-lo, na tentativa de garantir o tratamento da criança. Um estudo realizado no município de Diadema, que identificou as convicções de saúde e capacidade de adesão de mães de crianças com doenças crônicas e graves, concluiu que não basta o entendimento racional da doença. A mãe, como principal cuidadora da criança e responsável pela aderência ao tratamento, precisa ter maior contato com o tratamento da doença.
Este fato é observado também no presente trabalho, em que algumas mães relatam preferir acompanhar a criança, quando aproveitam para esclarecer dúvidas sobre a doenaç e o tratamento, demonstrando, assim, o compromisso com a saúde do filho. Ainda em relação ao estudo anterior a partir do momento em que os pais obtiveram informações mais precisas a respeito da doença e do tratamento que seria realizado, a percepção sobre a doença mudou e seus medos diminuíram, facilitando o enfrentamento da situação. Também se constatou esse fato entre os cuidadores da criança em tratamento para tuberculose.
A fé em Deus foi outro fator que facilitou o enfrentamento da doença para os cuidadores, que buscam apegar-se à possibilidade de ter apoio divino para a cura do filho. Um outro estudo constatou que as pessoas atribuem a Deus a solução dos problemas de saúde que as acometem. A importância do apoio de outras pessoas também foi enfatizado pelos cuidadores no enfrentamento das dificuldades, ajudando-os a continuar o tratamento até o final. Um estudo abordando sobre os conflitos pessoais e sociais de pacientes com tuberculose aponta que a presença de pessoas que possam compartilhar, com o doente, o enfrentamento da doença e as dificuldades do tratamento, torna-se decisivo para a cura.
Evidenciou-se, também, entre os cuidadores da criança em tratamento para a tuberculose, o desejo de interrompê-lo, em alguns momentos, entretanto isso não se concretizou, devido ao estímulo dos familiares.Constata-se, dessa forma, que o conhecimento sobre a tuberculose e seu tratamento, bem como o apoio da equipe e da família contribuem fortemente para a adesão da criança e sua família ao tratamento da tuberculose pela “estratégia TDO”, apesar das dificuldades enfrentadas.
VI. CONCLUSÕES
Existem muitas dificuldades enfrentadas pelo cuidador da criança ao iniciar o tratamento supervisionado para a tuberculose, desencadeando sentimentos como a culpa, por se sentir responsável pelo fato da criança ter sido infectado. Destaca-se, ainda, o medo de perder o filho, devido à gravidade da doença, e o sofrimento com o preconceito, enfrentado pelo desconhecimento das pessoas sobre a tuberculose, e as dificuldades financeiras, pois quase sempre um dos pais deixa de trabalhar para acomaphar a criança no tratamento.A necessidade de levar a criança ao serviço de saúde várias vezes na semana gera mudanças significativas na rotina da família, que se organiza para dar seguimento ao tratamento.
Constata-se, contudo, que, a maior responsabilidade na continuidade do tratamento recai sobre a mãe da criança que, muitas vezes, deixa de atender às suas necessidades para priorizar as do filho.Apesar de tudo, o cuidador busca adaptar-se às exigências do tratamento e enfrentar a situação, contando com o apoio de familiares e profissionais e buscando a ajuda de Deus.A compreensão desta situação complexa vivenciada pelo cuidador pode trazer reflexões importantes aos profissionais de saúde envolvidos no tratamento destas crianças. A necessidade de se reavaliar a abordagem desses cuidadores pela equipe de saúde torna-se fundamental, no sentido de contribuir de maneira significativa para a continuidade do tratamento até o final.
Estabelecer um vínculo de confiança com o cuidador parece ser uma estratégia valiosa, enfatizando a ideia de que o profissional é um parceiro no tratamento e busca, não apenas fazer cobranças, mas encontrar, junto com o cuidador, a melhor solução para driblar as dificuldades enfrentadas por ele.Cabe aos profissionais de saúde motivar e reconhecer o empenho do cuidador, reforçando sempre o que ele pode fazer para o maior sucesso do tratamento.

O Desafio do tratamento da Tuberculose extensivamente resistente em um hospital de referência no estado de São Paulo: Relato de três casos
Trabalho realizado no Hospital Nestor Goulart Reis, Secretaria de Estado da Saúde do Estado de São Paulo, Américo Brasiliense (SP) Brasil.


RESUMO
Relatamos aqui os casos de três pacientes portadores de tuberculose extensivamente resistente, internados em um hospital de referência no estado de São Paulo, e mostramos sua evolução clínica, radiológica e laboratorial pelo período de um ano. O tratamento instituído foi baseado nas diretrizes da Organização Mundial da Saúde, com a inclusão de uma nova proposta de uso de uma associação de drogas antituberculose (linezolida e imipenem). Nos casos estudados, demonstrou-se o desafio de construir um esquema terapêutico aceitável e eficiente com drogas mais tóxicas, mais dispendiosas e que foram utilizadas por períodos mais prolongados. Mostramos também o importante acréscimo nos custos do tratamento desses pacientes, com possíveis impactos no sistema de saúde mesmo após a alta hospitalar. Ressaltamos que, em casos extremos como os apresentados neste estudo, a hospitalização em centros de referência mostrou-se o caminho mais efetivo para oferecer tratamento adequado com possibilidade de cura. Em conclusão, todos os esforços dos profissionais da saúde e do poder público devem ser direcionados a evitar casos de tuberculose multirresistente e extensivamente resistente.
Descritores: Tuberculose resistente a múltiplos medicamentos; Tuberculose extensivamente resistente a drogas; Antituberculosos; Antibióticos antituberculose.
INTRODUÇÃO
O expressivo aumento do número de casos de Tuberculose
multirresistente (TB-MDR, do inglês multidrug-resistant) e de tuberculose extensivamente resistente (TB-XDR, do inglês extensively drug-resistant) torna essas formas da doença um grave problema de saúde pública mundial. Dados recentes mostram que o número de casos de TB-MDR triplicou entre 2009 e 2013. Em 2013, 3,5% dos casos novos de tuberculose e 20,5% dos casos previamente tratados foram de TB-MDR. A TB-XDR respondeu por 9% dos casos de TB-MDR notificados em 100 países.
A TB-MDR é causada pelo Mycobacterium tuberculosis resistente à rifampicina e à isoniazida, enquanto, na TB-XDR, o bacilo apresenta resistência adicional a qualquer fluoroquinolona e a pelo menos um dos três medicamentos injetáveis de segunda linha (amicacina, canamicina ou capreomicina). (1-3) O crescente reconhecimento de TB-MDR/XDR provocou o desenvolvimento de novas estratégias terapêuticas utilizando novas e antigas drogas tuberculostáticas. As drogas de primeira linha (mais efetivas), de segunda linha (menos efetivas, mais tóxicas, menos eficazes e que demandam um período mais prolongado de tratamento), e as consideradas de reforço (dependendo de sua eficácia e tolerabilidade) foram agrupadas pela Organização Mundial da Saúde (OMS) em cinco categorias. (1,4,5) A distribuição dessas drogas em categorias, assim como a recomendação da OMS para sua utilização.
O tratamento para a TB-MDR pode ser padronizado ou individualizado. Regimes padronizados são sugeridos pelos órgãos oficiais com base nos dados de saúde (por exemplo, padrão de resistência) de determinada região. (2,3,6) No Brasil, o tratamento da TB-MDR é padronizado pelo Ministério da Saúde. A OMS(1) recomenda o tratamento da TB-MDR em duas fases: intensiva e de manutenção. A fase intensiva, com duração de 8 meses, deve incluir no mínimo quatro drogas potencialmente efetivas: uma droga injetável (grupo 2), uma fluoroquinolona (grupo 3), uma droga oral (grupo 4) e um fármaco de reforço (grupo 5). Na fase de manutenção, retira-se a droga injetável, e as outras drogas devem ser mantidas por 12 meses após a negativação da cultura do escarro. (1,8,9) Entretanto, alguns autores sugerem o tratamento pelo período mínimo de 20 meses. Estudos recentes mostraram que a fase de manutenção pelo período de 18 meses após a negativação da cultura previne a falência, a recidiva e a mortalidade.
Em relação à TB-XDR, o tratamento deve ser sempre individualmente delineado com base em uma minuciosa história do tratamento antibacilar e nos padrões de resistência às drogas de primeira e segunda linha. Para estes casos, a OMS propõe cuidados especiais, entre os quais a utilização de pirazinamida e/ou algum outro fármaco do grupo 1; a utilização de quinolonas de última geração (moxifloxacina ou gatifloxacina) mesmo se o teste de sensibilidade mostrar resistência a levofloxacina e/ou ofloxacina; o uso do agente injetável (aminoglicosídeo ou capreomicina) para qual a amostra bacteriológica é sensível, sempre que possível, e sua extensão de uso por 12 meses ou mesmo por todo o tratamento; a utilização de dois ou mais agentes do grupo 5; e a utilização de todos os agentes do grupo 4 que não foram prescritos extensivamente nos regimes prévios ou ainda aqueles que forem considerados efetivos.
O presente estudo teve como objetivo mostrar a evolução no período de 1 ano de três pacientes com TB-XDR internados no Hospital Nestor Goulart Reis (HNGR), localizado no município de Américo Brasiliense (SP), que é um hospital de referência da Secretária de Estado da Saúde do Estado de São Paulo para o tratamento de TB-MDR/XDR que necessitam internação.
RELATOS DE 03 CASOS
Relatamos abaixo os casos de três pacientes que foram internados e tratados na nossa instituição. Os tratamentos e os testes de sensibilidade anteriores à internação desses três pacientes (identificados como pacientes 1, 2 e 3) são descritos na Tabela 2, enquanto tratamentos, testes de sensibilidade, evolução do peso corporal e resultados de baciloscopia, cultura para bacilo de Koch, VHS e proteína C reativa após a internação.
As radiografias de tórax (Figuras 1, 2 e 3 em relação aos pacientes 1, 2 e 3, respectivamente) e os resultados de outros exames laboratoriais na admissão e após 1 ano de tratamento estão disponíveis no suplemento on-line no site do JBP Jornal de Pneumologia
Paciente 1
Homem de 43 anos, tabagista (20 anos-maço), alcoolismo social e usuário de cocaína até 2011. Lavador de veículos, sem registro. Referia não adesão ao tratamento por não receber auxílio-doença e ser obrigado a trabalhar durante os diversos tratamentos prévios para tuberculose. Tinha renda familiar de R$ 800,00 (US$ 363,00). Residia em domicilio com dois quartos, onde morava com a mãe. Foi internado em 18/03/2013. O início do tratamento para TB-XDR ocorreu em 06/09/2013.
Paciente 2
Homem de 41 anos, tabagista (20 anos-maço), dependente de álcool até 2008, negava uso de drogas ilícitas e era assistente de manutenção. Esteve em licença médica recebendo auxílio-doença durante os tratamentos ambulatoriais prévios. Sua renda familiar era de R$ 1.400,00 (US$ 437,00). Residia em domicilio com cômodo único, onde morava com a esposa, uma criança de 1 ano de idade e dois filhos adolescentes. Foi internado em 24/10/2013. O início do tratamento para TB-XDR ocorreu em 01/11/2013.
Paciente 3
Mulher de 25 anos, tabagista (5 anos-maço), etilista social, negava uso de drogas ilícitas e era balconista em uma padaria. Seu salário era de R$ 725,00 (US$ 327,00), sem registro. Declarava apresentar má adesão ao tratamento por não ter auxílio-doença e ser obrigada a trabalhar durante os diversos tratamentos anteriores. Residia em domicilio de três quartos com mais três pessoas (uma filha de 5 anos, um irmão e sua mãe) e dormia sozinha em um dos quartos. Utilizara oxigênio domiciliar entre dezembro de 2013 e a internação no HNGR. Foi internada em 10/02/2014. O início do tratamento para TB-XDR ocorreu em 10/03/2014.
DISCUSSÃO
No presente estudo, relatamos três casos graves de TB-XDR, com diversos tratamentos prévios, demonstrando que a utilização de um regime de drogas baseado nas diretrizes da OMS e com uma nova proposta de associação de drogas antituberculose (linezolida e imipenem) levou a cura clínica e bacteriológica e importante melhora radiológica dos pacientes. À luz do nosso conhecimento, este é o primeiro relato de casos na América Latina e o segundo em termos globais sobre a utilização do imipenem para o tratamento de pacientes portadores de TB-XDR, assim como o primeiro relato a nível mundial sobre a cura de pacientes TB-XDR com a associação imipenem e linezolida.
No HNGR, o tratamento é iniciado após um minucioso levantamento da história clínica e medicamentosa. A baciloscopia é realizada no próprio hospital. As culturas para bacilo de Koch e os testes de sensibilidade são realizados no Instituto Adolfo Lutz e repetidos bimestralmente. Os exames laboratoriais são realizados na Faculdade de Ciências Farmacêuticas da Universidade Estadual Paulista e repetidos trimestralmente. À internação, são realizadas radiografias e TCs de tórax, sendo as primeiras repetidas bimestralmente. A proposta inicial ao paciente é de tratamento hospitalar por 24 meses, dependendo da resposta clínica, bacteriológica e laboratorial.
A TB-MDR/XDR é multifatorial, podendo ocorrer por um ou mais dos seguintes fatores: administração de tuberculostáticos feita pelos serviços de saúde com esquemas ou doses inadequadas ou com esquemas por períodos demasiadamente curtos; má gestão na oferta e na qualidade das drogas; laboratórios com capacidade de resolutividade precária; adição de uma ou mais drogas a um esquema já falido; pacientes que interrompem e/ou utilizam os medicamentos de forma irregular; e pacientes que adquirem a doença através de uma cepa primariamente multirresistente.
O fato de os pacientes 1 e 3 terem sido submetidos a diversos tratamentos prévios de forma irregular e, consequentemente, não efetivos, pode ter contribuído para as graves sequelas pulmonares observadas nas radiografias de tórax à internação. O paciente 2 fez tratamento com um esquema básico, de forma supervisionada, e o desfecho foi falência, o que poderia ser explicado por uma cepa de TB-MDR primária.
Utilizamos nove drogas diferentes para o tratamento dos pacientes 1 e 2 e dez drogas para o paciente 3, em acordo com a orientação da OMS para o tratamento de TB-MDR e as orientações especiais da mesma para a TB-XDR, além de fármacos aos quais as cepas encontradas se mostraram sensíveis no teste de sensibilidade. Os pacientes utilizaram, previamente à internação e de forma alternada e/ou inconsistente, drogas dos grupos 1 a 4. Somente o paciente 1 utilizou uma droga do grupo 5 (clofazimina). Quando tratamos pacientes portadores de TB-XDR, há poucas alternativas medicamentosas para construir um regime de tratamento aceitável e eficiente. Utilizamos para os três pacientes uma droga injetável (grupo 2) e uma fluoroquinolona de ultima geração (moxifloxacina). Apesar da contraindicação relativa da OMS, optou-se pelo uso da estreptomicina no paciente 2, considerando que o mesmo já havia utilizado a amicacina sob supervisão por aproximadamente 20 meses antes da internação e que não havia disponibilidade de capreomicina na época. Todos receberam as drogas dos grupos 4 (terizidona e etionamida) e 5 (imipenem e linezolida). Um estudo caso-controle prévio mostrou a efetividade e a tolerabilidade da associação meropenem+clavulanato/linezolida no tratamento de pacientes com TB-MDR/XDR. Um estudo recente mostrou a efetividade do ertapenem como alternativa para esse tratamento mesmo ambulatoriamente. Associamos o clavulanato como um agente adjuvante ao imipenem/cilastatina e sempre associado à amoxicilina, considerando que o mesmo não é disponibilizado isoladamente. A claritromicina, apesar de sua atividade incerta sobre o M. tuberculosis, foi utilizada em todos os pacientes pelo seu efeito sinérgico à efetividade da linezolida. Utilizamos o etambutol em todos os pacientes, inclusive no paciente 1, apesar de a OMS não considerar essa droga como um fármaco-chave nos regimes terapêuticos para TB-MDR, mesmo quando existe sensibilidade à droga (pacientes 2 e 3). Optamos pelo uso da pirazinamida somente para o paciente 3, em acordo com o teste de sensibilidade.
A proposta de seguimento após o primeiro ano foi para manter as medicações injetáveis por 18 meses e as orais por 24 meses. Até o momento, os pacientes 1 e 2 tiveram alta por cura, e o paciente 3 mantém melhora clínica, radiológica e bacteriológica. Cabe ressaltar que nenhum paciente apresentou quaisquer efeitos adversos às medicações utilizadas.
O custo da terapêutica medicamentosa para pacientes com TB-XDR traz um grande impacto financeiro. O valor anual despendido pelo poder público somente com medicamentos para cada paciente incluído no presente estudo foi de, aproximadamente, R$ 76.000,00 (US$ 30.000). Um estudo realizado na África do Sul mostrou que o tratamento de um paciente portador de TB-XDR tem um custo de US$ 26.392, quatro vezes maior que o do tratamento de um paciente portador de TB-MDR (US$ 6.772) e 103 vezes maior que o de um paciente portador de tuberculose sensível ao esquema básico (US$ 257).(4) Além disso, temos de considerar a grande destruição do parênquima pulmonar, que não somente impacta a qualidade de vida do paciente, mas torna extremamente difícil o cálculo dos custos posteriores à alta hospitalar, tanto para o paciente como para o poder público.
Em conclusão, são necessários todos os esforços do poder público no sentido de evitar a TB-MDR/XDR. Em casos extremos como os apresentados no presente estudo, é necessário considerar a internação para garantir um tratamento efetivo por um período de tempo adequado.

Tuberculose disseminada em paciente imunocompetentesecundária ao uso abusivo de corticosteroide: É hora de transformar o corticosteroide em medicação controlada?
Philipe Quagliato Bellinati; Alexandre Lima Matos; Carla Cristina Monteiro; Pedro Henrique Lemos Martins; Zuleica Naomi Tano - Residentes de Infectologia no Hospital Universitário de Londrina –Universidade Estadual de Londrina, Londrina/PR
Introdução:
Tuberculose constitui um problem ade saúde pública no mundo, sendo a segunda causa de morte por doenças contagiosas no mundo. No Brasil é uma infecção endêmica. Fatores de risco para a doença são infecção pelo HIV, desnutrição, quimioterapia e terapia imunossupressora, como uso decorticosteroides.
Objetivos: Relatar caso de tuberculose disseminada em paciente imunocompetente, porém em uso abusivo de corticosteroide para tratamento de cefaleia tensional.
Realtos: C.A.M.S., masculino, 35anos, com quadro decefaleia há 8 anos, com piora progressiva e febre há 2 meses. Paciente tratado com diversos fármacos, eu soa busivo de corticosteroides. Há 2 meses iniciou quadro de febre diária, diagnosticado por diversas vezes como infecção do trato urinário e pneumonia. Evoluiu com piora do estado geral, tosse, expectoração e calafrios, mantinha febre. Paciente apresentou novos sintomas: letargia, confusão mental, flutuação donível de consciência. Admitido com leucocitose 13.500/mm, predomínio de segmentados. Coletado liquor , bacterioscopia negativa. Devido quimiocitológico, foi iniciado ceftriaxoneevancomicina. No dia seguinte, paciente evolui com rebaixamento do nível de consciência associada a insuficiência respiratória, necessitando de suporte ventilatório. Introduzido em piricamente anfotericina de oxicolato e flucitosina por suspeita de neurocriptococose. Manteve-sefebril, com instabilidade hemodinâmica. No terceiro dia de internação, ampliado esquema antibiótico para meropenem e mantido vancomicina. Suspenso anfotericinaeflucitosina pois látex para criptococosnegativo. Secreção traqueal com pesquisade BAAR positiva, associado RHZE (rifampicina, isoniazida, pirazinamida e etambutol). Evolui com midríasefixa. Suspensos e dativos, constatado com a arresponsivo, arreflexo. Tomografia de crânio evidencia vapneumoencéfalo, e herniação encefálica. Novo liquor com presença de BAAR. Após10 dias de internação, paciente evoluiu a óbito. Realizado necropsia que revelou tuberculose miliar, com focos em cérebro, rins, adrenais e pulmões.
Cultura de secreção traqueal e liquor com presença de Mycobacterium tuberculosis.
Discussão: A tuberculose é uma doença contagiosa cujo diagnóstico definitivo requer a identificação do Mycobacterium tuberculosis. Fatores de risco associados são infecção pelo HIV, desnutrição grave, uso de quimioterápicos e terapias imunossupressoras. O diagnóstico de meningite tuberculosa consiste da análise do liquor, evidenciando células elevadas 0-1.500/mm³ (com predomínio linfo monocitário), proteínasaltas, glicoseconsumida. Emestágiosiniciais, até 25% dos casos templeocitose polimorfo nuclear. A identificação do bacilono liquor é feita em até 33% dos casos e demanda punções repetidas. A cultura do liquor geralmente é negativa. Porém com o uso do PCR (polymerasechainreaction) obtém-sede 60-90% de positividade em liquor que eventualmentetenhamculturaspositivas.
Pneumo encéfalo não-traumático é uma manifestação rara de meningite tuberculosa, comumente encontrada em meningites bacterianas e neoplasias. Anteriormente descrito em paciente imunodeprimido.
Os efeitos adversos da corticoterapia são frequentes e variados, desde sintomas leves e reversíveis até quadros letais. Dose acima de 20mg/dia de prednisona aumenta o risco de infecções, devido ao efeito na imunidade celular (inibição da migração de granulócitos e monócitos no foco inflamatório), e aumenta em até 40 vezes o risco de infecções por agentes atípicose oportunistas, podendo gerar infecções disseminadas graves. Pacientes em uso de glicocorticoides tem risco 5 vezes maior de desenvolver tuberculose.
Conclusão: O uso abusivo de corticoide é fator de risco para infecções oportunistas, e seu uso aumenta o risco de tuberculose em até 5 vezes. Apesar de tratamento disponível e eficaz, a doença pode ter desfechos fatais.

Sem coordenador, Programa Nacional de Controle da Tuberculose preocupa movimentos sociais.
Os movimentos sociais de combate à tuberculose no Brasil vivem um momento de grande tensão: estão preocupados com a falta de um coordenador geral e adjunto no PNCT/MS (Programa Nacional de Controle da Tuberculose do Ministério da Saúde). De acordo com manifesto da Rede Brasileira de Comitês Para o Controle da Tuberculose, isso acontece desde novembro de 2015, quando o médico Draurio Barreira deixou a coordenação, e o MS não se manifesta a respeito. “Por conta da reestruturação para cortes orçamentários, eles estão enxugando setores. Por isso, o PNCT seria desmontado e colocado como mais uma tarefa para o Departamento de DST, Aids e Hepatites Virais. Mas isso não é bom para ninguém e há um silêncio preocupante vindo do Ministério,” explica o coordenador do OTB.
Cálculos feitos pelo CFM (Conselho Federal de Medicina) afirmam que o MS iniciou o ano de 2016 com um déficit de pelo menos R$ 2,5 bilhões em seu orçamento. Segundo a LOA (Lei Orçamentária Anual), sancionada em janeiro, a Pasta conta com a previsão de R$ 118, 5 bilhões. Menos 2% que a estabelecida no ano passado (R$ 121 bilhões).
ONGs, fóruns, comitês e redes de combate à tuberculose têm se mobilizado para exigirem respostas do Ministério. “Draurio Barreira, ex-coordenador geral do PNCT e Fábio Moherdaui, ex-coordenador adjunto, saíram dos cargos no mesmo período. Quem vai ficar com os cargos? O que vai acontecer? O que estão dizendo são só boatos? Temos no Programa de Tuberculose fontes de confiança. Mas, oficialmente, ninguém diz nada”, disse Roberto Pereira, coordenador do Fórum Estadual de ONGs TB/RJ.
E não diz mesmo. A Agência Aids procurou o MS. Por meio de sua assessoria de imprensa, a Pasta informou que não há previsão para a coordenação do PNCT passar para o Departamento de Aids, nem para a ocupação do cargo que foi de Draurio Barreira.
“O Programa de Tuberculose faz parte do Departamento de Vigilância de Doenças Transmissíveis do Ministério da Saúde, dirigido por Cláudio Maierovitch, e continuará, por enquanto, sob o seu guarda-chuva. Em algum momento, o cargo de coordenador pode vir a ser novamente ocupado, mas não há previsão para isso.” Foi o que informou o Ministério.
Cenário da doença
Segundo o Boletim Epidemiológico do Ministério da Saúde, estima-se que um terço da população mundial esteja infectada com o bacilo causador da tuberculose (TB). Em 2013, foram registrados 9 milhões de novos casos da doença no mundo e 1 milhão de óbitos.
Ainda de acordo com o boletim, o Brasil faz parte do grupo dos 22 países de alta carga priorizados pela OMS (Organização Mundial da Saúde), que concentram 80% dos casos de tuberculose no mundo, ocupando a 16ª posição em número absoluto de casos. No país, no período de 2005 a 2014, foram diagnosticados, em média, 73 mil casos novos de tuberculose por ano, e em 2013, ocorreram 4.577 óbitos.
“Os dados são sérios e as ações e índices brasileiros de combate à tuberculose têm reconhecimento mundial. Não estamos falando de um departamento, mas de um programa oficial. Temos a meta de reduzir os indicadores e estamos no caminho, mas esse silêncio, a falta de diálogo e possíveis mudanças são retrocesso nas nossas conquistas”, afirmou Carlos. “No Rio de Janeiro enfrentamos a TB multirresistente. Falta uma vacina e o cenário tende a se agravar”, disse Roberto
A TB e o HIV
Estimativas da OMS apontam que existem cerca de 33 milhões de pessoas infectadas por HIV no mundo. Destas 25% estariam coinfectadas por tuberculose. Entre os soropositivos, a tuberculose é a segunda maior causa de óbitos.
Para o movimento de aids, o momento que o Programa de Tuberculose está passando também é preocupante. “A gente está tentando, por meio do Conselho Nacional de Saúde dar visibilidade para o que está acontecendo com a Política Nacional de TB. Sempre fomos apoiadores deles e não queremos que a TB fique em segundo plano. Eles precisam de maiores investimentos”, afirmou Moysés Toniolo, conselheiro nacional de saúde nas patologias pela Anaids (Articulação Nacional de Luta Contra a Aids) e membro da RNP+ Brasil.
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